O Oceano Negro.

O oceano negro é onde dores e sentimentos mais profundo são destilados em texto.


O Mar Negro

E como nadar no mar negro

Um nado continuo e ordenado, como algo predeterminado. A cada braçada, um momento único para respirar, parar de nadar não é uma opção, se parar, você se afoga, e lentamente o mar negro te suga para as profundezas, o mar é denso, eu sei que é só agua, é só água e escuridão, mas ainda sim, a sensação é de nadar na lama. A maioria tem o dom de nadar, uma nado rítmico, numa velocidade invejável, nem parece que estamos no mesmo mar, eles fazem parecer tão fácil. Eles não lutam para continuar nadando, o problema deles é diferente no meu, nadar é o objetivo, e o que encontrarão é o que causa ansiedade. As vezes, enquanto nado durante madrugada, o mar me chama, grita meu nome, me faz sentir que afundar lentamente me perdendo nas trevas, é o que deveria ter ocorrido desde o princípio. Conforme afundo, a sensação de conforto de me perder nas trevas é mais forte que a vontade de nadar, é por isso que eu bóio. Alguém passou por mim e gritou "VOLTE A NADAR!" meu olhar perdido se encontrou com os olhos do nadador, e ele disse "Só continua! confia em mim!". 

Enfim, boiar, Boiar é como pedir uma pausa, estar entre nadar e afundar, mas não é isso que o mar quer, ele quer que eu afunde, e assim acontece aos poucos, esse é o objetivo dele, deixar de nadar é negar decidir o próprio destino, consentido a vontade do mar. Afundar é, calmo, é relaxante, é por isso que é tão tentador, a libertação final, sem outros nadadores, sem animais marinhos te atacando, sem dor, apenas, apenas vazio e escuridão, afundar lentamente, ver a luz da superfície se perder, cada vez mais fraca, a única pressão que sinto é física, sinto uma dor forte no meu tórax, meu sangue corre acelerado e a adrenalina transforma meu sangue em ácido, queimando por todo o corpo, ainda sim, é melhor que nadar.

Mas infelizmente tem algo, algo dentro de mim, algo que implora, que esperneia para chamar minha atenção, sua vontade é que eu continue nadando, esse algo, grita alto com tanta fúria, que o desconforto chega a ser maior que o de nadar. 

- Desgraça, é com isso que me embebedei, não há paz.

 Enfim, o incomodo é demasiado, eu estou sendo forçado a voltar para superfície, sequer o direito de me afogar em paz, eu tenho.

- CALA A BOCA PORRA!, por favor! Me deixe afundar...

- Por quê quer tanto que eu sofra? eu não entendo... 

Parece que quer me ver no mar, sozinho, perdido, sem razão, sendo mordido pelos tubarões, queimado pelas aguas vivas, quer me ver chorar, desesperado por querer paz, e ter apenas agonia. Mas, é, eu não tenho escolha, na beira do abismo eu consigo me sentir livre, se estou condenado nadar, então que seja.

Nado em direção a superfície, as bolhas me guiam para a luz da noite estrelada, meu corpo todo dói, nadar cansa, mas voltar a superfície depois de afundar é ainda mais doloroso. De certa forma, a dor me trás alívio, é como se tudo o que está na minha mente, fosse transferido para meu corpo, como se tudo fosse drenado.

- Então é isso? A dor me traz alivio?

Continuo nadando no mar de lama, meus músculos queimam, aos poucos meus braços perdem as forças, mas continuo nadando até a superfície. A dor tornasse mais e mais intensa, e conforme aumenta, eu me sinto mais leve, as águas negras se tornam menos densas, e meus braços perdem a sensibilidade, meu corpo se desloca na agua, assim como uma faca quente atravessa a manteiga. Meu tórax ainda dói, a falta de oxigênio faz minha visão escurecer aos poucos, ainda sim, me sinto bem. 

Finalmente! voltei a superfície, a minha respiração acelerada assusta os outros nadadores, eu olho em volta, e então vejo os demais, todos orgulhosos, nadando sem parar, alguns com um sorriso na boca, os que me viram submergir parecem assustados, sequer tem noção do que ocorreu nos últimos minutos, os estão nadando. Enfim, após me acalmar, eu olho ao meu redor, e para minha surpresa, eu consigo ver vários outros nadadores parados, boiando assim como eu, perdidos, e desesperançosos, todos com seus rostos tristes, alguns com seu rosto marcado por lagrimas secas, outros, exibindo a única coisa que lhes restam, um olhar vazio, eu sorrio para eles, sem entender, eles apenas meu olham, e então, eu volto a nadar.

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